As novas tarifas comerciais dos EUA e o impacto no turismo nos Açores

As novas tarifas comerciais dos EUA e o impacto no turismo nos Açores: o que os anfitriões devem saber.

4/20/20256 min ler

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As novas tarifas comerciais dos EUA e o impacto no turismo nos Açores: o que os anfitriões devem saber

Desde o início de 2025, com o regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o mundo assiste a uma nova vaga de tensões comerciais, com tarifas generalizadas a serem aplicadas sobre as importações, especialmente provenientes da China. Algumas destas tarifas chegam aos 200%, numa medida que está a provocar alterações profundas na economia global — e, inevitavelmente, a influenciar o setor do turismo internacional.

Embora os Açores possam parecer à margem destas dinâmicas, a verdade é que a nossa ligação histórica e cultural com os Estados Unidos, aliada à crescente importância do turismo norte-americano na região, torna-nos particularmente vulneráveis aos impactos económicos desta nova fase política americana.

Neste artigo, exploramos o que estas novas políticas significam, como podem afetar o comportamento do turista americano e o que os proprietários e gestores de alojamento local devem ter em conta nos próximos meses.

a large body of water surrounded by lush green hills
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Os Açores continuam no radar do turismo norte-americano — mas com novos desafios à vista.

O que está a acontecer com as tarifas nos EUA?

Desde janeiro de 2025, a nova administração norte-americana iniciou a aplicação de tarifas comerciais generalizadas de 10% sobre praticamente todos os produtos importados, além de tarifas específicas e elevadíssimas — até 200% — sobre bens provenientes da China.

Estas medidas visam, segundo o governo norte-americano, proteger a produção interna e reequilibrar a balança comercial. No entanto, o efeito prático está a ser um aumento generalizado dos preços para os consumidores americanos, que já enfrentam novas pressões inflacionárias logo nos primeiros meses do ano.

O impacto económico: dólar, inflação e consumo

Estas políticas têm três consequências diretas que devem ser analisadas com atenção por quem opera no setor do turismo:

  1. Aumento dos preços no consumo interno norte-americano: com bens importados mais caros, o custo de vida sobe e as famílias ajustam os seus hábitos de consumo — viagens incluídas.

  2. Oscilações cambiais: embora o dólar se mantenha estável por agora, os mercados reagem às incertezas e à política agressiva, podendo desvalorizar em relação ao euro — tornando viagens à Europa mais caras para o americano médio.

  3. Redução do rendimento disponível para viagens: se o custo de vida continuar a subir, muitos americanos poderão optar por viajar menos, reduzir a duração das estadias ou procurar destinos mais acessíveis.

A importância do turismo americano para os Açores

A ligação entre os Açores e os Estados Unidos não é apenas económica — é histórica, afetiva e constante.

Uma ligação feita de pessoas e de raízes

Ao longo do século XX, dezenas de milhares de açorianos emigraram para os Estados Unidos, criando comunidades fortes e enraizadas, sobretudo na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia. Esta emigração gerou um fluxo contínuo de viagens de regresso, turismo de raízes, e até investimentos imobiliários por parte de emigrantes e descendentes.

Este tipo de visitante tem uma motivação única: visitar o “seu” lugar, a terra dos pais ou avós, e manter ligação às suas origens. Com o aumento dos custos de vida nos EUA, este tipo de turismo emocional pode ser um dos primeiros a sentir o impacto.

Nota importante:
Embora os dados oficiais indiquem que cerca de 12% dos turistas nos Açores em 2023 eram provenientes dos Estados Unidos, este número está certamente subestimado.
Devido às fortes ligações familiares e históricas com os EUA, muitos açorianos emigrados ou descendentes de emigrantes têm dupla nacionalidade e utilizam documentos portugueses ao viajar, o que os exclui das estatísticas formais como “turistas estrangeiros”.

Na prática, o impacto real do turismo de origem americana é superior ao que os números mostram, e qualquer retração nesse fluxo pode ter um peso mais significativo do que aparenta.

O crescimento das ligações aéreas EUA–Açores

Em 2024 e 2025, o número de ligações aéreas diretas entre os EUA e os Açores aumentou, especialmente durante os meses de maior procura (primavera e verão).
Atualmente, há voos regulares diretos entre Nova Iorque (JFK) e Ponta Delgada (PDL) operados por companhias como a Azores Airlines e a United Airlines, bem como ligações sazonais a Boston e Providence.

Estes voos são um reflexo da importância crescente do mercado norte-americano, e qualquer mudança nas condições económicas ou no comportamento de consumo pode afetar diretamente estas rotas — e a procura por alojamento local na região.

A yellow and white check in sign hanging from a ceiling
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Que mudanças podem surgir?

Se a atual tendência se mantiver, podemos esperar vários cenários possíveis:

  • Redução no número de turistas americanos: sobretudo aqueles que vêm por lazer e não têm ligação pessoal à região;

  • Menor gasto médio por hóspede: turistas a optar por estadias mais curtas, alojamentos mais económicos e menos consumo local;

  • Procura por destinos alternativos dentro dos EUA ou zonas com paridade cambial mais favorável.

Isto significa que, mesmo que os Açores continuem a ser atrativos, os visitantes americanos poderão tornar-se mais seletivos, mais sensíveis ao preço e menos impulsivos nas reservas.

O que podem (e devem) fazer os anfitriões?

Num contexto de mudança económica global, a flexibilidade e a antecipação tornam-se as maiores vantagens competitivas. Eis algumas estratégias recomendadas:

1. Rever as tarifas com inteligência

Utilize ferramentas de tarifas dinâmicas para ajustar os preços conforme a procura, eventos e sazonalidade. Se o mercado americano mostrar sinais de retração, pode compensar ajustando ligeiramente as tarifas para manter ocupação elevada.

2. Apostar na comunicação multilíngue

Se ainda não o faz, invista em descrições e conteúdos em inglês, bem estruturados e apelativos, para garantir que continua a captar a atenção de quem ainda pretende viajar.

3. Adaptar ofertas à nova realidade

Considere criar ofertas de estadia prolongada, pacotes para workation (férias em trabalho) ou promoções early-bird que apelam à necessidade de poupança do hóspede atual.

4. Diversificar mercados de origem

Não dependa apenas dos EUA. Aposte também no mercado interno português, francês, alemão e escandinavo — que têm mantido procura estável.

5. Acompanhar tendências e dados de reservas

Esteja atento a alterações no padrão de reservas (menos americanos? mais reservas last-minute?) e ajuste a sua comunicação e política de preços em conformidade.

white concrete house beside green leafed trees
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Conclusão: um cenário em evolução que exige atenção local

As novas tarifas comerciais dos EUA não são apenas uma questão macroeconómica distante. São uma realidade com impactos muito concretos no comportamento dos turistas americanos — e, por consequência, no alojamento local nos Açores.

A relação histórica entre os Açores e os Estados Unidos torna a região especialmente exposta a estas alterações, mas também apresenta uma oportunidade única para agir com inteligência, estratégia e proatividade.

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