A saída da Ryanair dos Açores: o que isso significa para o turismo e para o mercado de alojamento local em 2026

A empresa de aviação Ryanair anunciou que irá sair do mercado dos Açores a partir de março de 2026, que impactos esta situação pode trazer para o setor do turismo nos Açores?

12/8/20255 min ler

white and blue plane
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Em finais de 2025, a Ryanair confirmou que vai abandonar completamente a sua operação nos Açores a partir de março de 2026. A companhia justificou a decisão com o aumento das taxas aeroportuárias e a falta de condições que considera essenciais para manter o seu modelo de baixo custo.

Independentemente da explicação oficial, o efeito prático é imediato: o arquipélago perde centenas de milhares de lugares anuais que vinham sendo disponibilizados por uma companhia que, goste-se ou não, democratizou o acesso aos Açores. Durante anos, a presença da Ryanair trouxe turistas que nunca ponderariam visitar o arquipélago se não existissem voos de 20 a 40 euros, especialmente viajantes jovens, mochileiros e quem fazia escapadinhas de fim de semana.

A verdade é que a operação low-cost não era apenas “mais uma” rota; era uma peça estrutural que ajudava a suavizar a sazonalidade e a garantir movimento em épocas tradicionalmente fracas. E quando um destino depende de conectividade aérea para existir turisticamente, cada rota perdida faz mossa — uns segmentos mais, outros menos.

A saída da Ryanair dos Açores: impacto real no turismo e no alojamento local

a woman with a backpack walking through a forest
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A importância das low-cost em destinos periféricos

As companhias aéreas de baixo custo têm tido um papel determinante no crescimento do turismo em vários destinos periféricos, e os Açores não são exceção. A presença destas transportadoras muda profundamente o tipo de visitante que chega, a frequência das viagens e a acessibilidade real do destino. No caso açoriano, a Ryanair contribuiu de forma clara para diversificar o fluxo turístico e trazer visitantes que dificilmente escolheriam as ilhas se o custo da viagem fosse substancialmente mais alto.

O perfil de viajantes que a Ryanair trazia aos Açores

O perfil destes viajantes era bastante específico. Muitos eram portugueses do continente à procura de uma escapadinha rápida, sobretudo quando os preços eram suficientemente baixos para justificar uma viagem espontânea. Outros vinham de Espanha, um mercado que historicamente responde bem a destinos insulares acessíveis. Também havia um fluxo consistente de jovens europeus, sobretudo alemães, franceses e britânicos, atraídos pela natureza, pelo clima ameno e pelo facto de poderem viajar com pouco planeamento e sem grande impacto no orçamento. Estes segmentos não competiam diretamente com o turismo premium; eram complementares. Preenchiam vazios na época baixa, ocupavam alojamentos mais económicos e ajudavam a manter algum movimento nos meses menos procurados.

O papel das low-cost no turismo e porque é que a Ryanair fazia diferença nos Açores

O impacto imediato da saída da Ryanair

Com a saída da Ryanair, é inevitável que parte deste segmento desapareça. O turismo de baixo custo é altamente sensível ao preço e tende a diminuir rapidamente quando a viagem se torna mais cara ou menos conveniente. Isto deverá traduzir-se numa redução das estadias curtas, na queda das reservas de última hora e numa ocupação mais fraca nos meses de transição entre picos sazonais. Os alojamentos económicos, hostels e unidades pouco diferenciadas serão os primeiros a sentir o impacto, já que dependiam de volume e não tanto de valor acrescentado. Em algumas ilhas, onde as rotas da Ryanair desempenhavam um papel mais visível, esta quebra pode ser ainda mais significativa.

A importância das low-cost em destinos periféricos

As oportunidades que podem surgir desta mudança

Mas há também efeitos menos discutidos que podem tornar-se oportunidades. Quando o custo da viagem sobe, o visitante que decide vir tende a ficar mais dias para justificar o investimento. Isso pode reduzir o padrão de deslocações rápidas entre ilhas e incentivar uma permanência mais prolongada na mesma localização. Este tipo de visitante consome mais localmente, estabelece uma relação mais forte com o destino e contribui para um turismo mais sustentável. Uma estadia média mais longa pode, em muitos casos, compensar a redução do volume absoluto de visitantes.

Reposicionamento do turismo nos Açores

Há ainda a questão do perfil. Se a proporção de turistas com maior poder de compra aumentar, os alojamentos que apostam em qualidade, boa apresentação e serviços profissionais podem beneficiar diretamente. Isto não significa transformar o destino num mercado de luxo, mas sim reforçar uma tendência natural: quem paga mais pela viagem tende a valorizar mais o alojamento, a experiência e o serviço. Para quem trabalha de forma profissional na área do alojamento local, este pode ser um momento interessante para reposicionar o produto e diferenciar-se de unidades que continuam a competir apenas por preço.

aerial view of lake
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E o futuro das ligações aéreas?

Quanto à conectividade aérea, é prudente manter alguma cautela. A saída de uma low-cost como a Ryanair cria inevitavelmente um vazio, e não existe, neste momento, nenhuma companhia com capacidade imediata para absorver o mesmo volume ou o mesmo tipo de procura. O grupo SATA poderá ajustar horários ou reforçar algumas ligações, mas o impacto global dificilmente será compensado dessa forma e é natural que o mercado passe por um período de adaptação antes de encontrar um novo equilíbrio.

Há, no entanto, uma camada adicional que torna este tema ainda mais complexo: a própria situação da SATA. Entre discussões sobre o futuro da companhia, a eventual privatização de parte do grupo e a pressão para tornar a operação mais sustentável, não é claro como a transportadora regional irá posicionar-se nos próximos anos. A sua evolução terá influência direta no turismo e no acesso ao arquipélago, mas esse assunto merece uma análise própria, porque extravasa em muito a questão da saída da Ryanair.

Por agora, o essencial é reconhecer que o mercado tenderá a reajustar-se. Outras companhias podem vir a avaliar a região, sobretudo se identificarem procura consistente e condições favoráveis, e o próprio destino pode evoluir para um posicionamento mais centrado nos visitantes que continuam a escolher os Açores mesmo quando não existem tarifas extremamente baixas.

No final, o efeito real não será o colapso do turismo, mas sim uma mudança de perfil. O destino continuará a atrair visitantes, mas com motivações e orçamentos diferentes. O desafio, para quem opera no setor, é perceber esta transição com clareza e ajustar a oferta de forma estratégica.

Um mercado em mudança e a importância de uma boa estratégia

O turismo nos Açores está a entrar numa nova etapa. Menos dependente do volume e mais focado na qualidade, na experiência e na autenticidade. Para os proprietários, isto significa repensar a estratégia e adaptar-se a um visitante que provavelmente ficará mais tempo e procurará melhores condições.

É precisamente neste ponto que o trabalho de gestão profissional faz a diferença. Na Your Nest ajudamos proprietários a tirar partido deste novo contexto, preparando cada alojamento para atrair um público mais exigente e garantir ocupação consistente ao longo do ano. Se sente que a sua propriedade pode dar mais, estaremos sempre disponíveis para encontrar o melhor caminho consigo.